Fernando - Contos e Desencantos Parte VIII


*Toc Toc Toc

Quase cai escada a baixo por tentar desesperadamente abrir a porta na esperança de ser aquela que me deixou por insensatez do destino...
- Marina?

- Oi Nando, eu te devo explicações...
Num gesto totalmente involuntário, já estava eu a abraçá-la, um abraço quente, longo e confortável, pediria que o mundo acabasse naquele instante se possível, possível não era!
As flores não puderam por vontade da razão e da sanidade trazer a Duda, mas por pena de mim, trouxeram a Marina!
- Entre, entre, tome um café, chá, suco, o que queres comer, beber, algo a fazer?

Vi brotar de seus lábios um sorriso tão singelo e meigo, mas me soou bem preocupado e triste, pois realmente ela estava...

- Sente-se, diga-me, por que foi embora tão de repente? Magoei-te? Por que chorou? Vexei-te?

Entupi ela de perguntas, mesmo parecendo um gesto feio e mal educado, não podia eu deixar minha curiosidade atiçada e as tais perguntas a continuar a vagar...
- Sou casada Nando... Não estou divorciada, mas estou separada dele... Separada por um muro de grandes pedras e ferros de grandes portes... Que é o que ele merece...


Como eu fico depois de ouvir isto? Apenas peço piedade da minha alma desgastada! Por Deus, por que não tenho sorte com amores que em minha vida entram! Por que de tão imediato já tens de sair? Diga Senhor Deus que escuta todos os fracos, pecadores, necessitados e inesperançosos como eu! Não mereço eu a sua piedade? [...]

- Nando? Estás bem?
- Você disse muro? Ferros? O que isso quer dizer? Por que não pede o divorcio logo?
- Ele está preso Nando, numa cadeia... Ele é perigoso, mau caráter, deve ficar longe dele Nando, longe!
Ela me quebrou pelo meio, pois chorava mais do que eu no túmulo da Duda, era um choro profundo, dolorido, sufocante e desesperado... Marina! Acho que um abraço não era o bastante, mas abracei-a, triste fiquei, por ela ser casada e por estar sofrendo tanto, dividi com ela a dor, foi necessário...

- Nando, nós não podemos ficar juntos ou cultivar um amor que parece surgir como uma luz no final de um longo túnel, meu marido vai ser solto em breve, parece ter tido bom comportamento lá dentro, grande falsário isso sim ele é, está doido para por as mãos em mim novamente, maltratar-me, trazer de volta a negra e triste vida que há tempos não sabia mais o que era...

- Não, eu não vou deixar-te, vou proteger-te dele, ele que se atreva a tocar um só dedo em você, sairei de mim, não me responsabilizarei por meus atos, não mesmo! Porque meu sentimento por você se tornou ouro maciço, e comigo, não temas nada, nada Marina, nada!
Dei-lhe um beijo no rosto de despedida, um outro abraço, mais demorado que o primeiro, despediu-se, e se foi! Se foi com um olhar triste e sofrido, estava com medo de algo de ruim acontecer comigo, mas medo da morte eu não tenho, ela que deveria ter medo de mim!

Deveria sim!
Posted on 23:08 by Raphael and filed under | 0 Comments »

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